quinta-feira, agosto 19, 2010

REFÉM


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Se conheceram muito jovens, e como todos os jovens, cometeram os erros que os jovens cometem. Que se gostavam muito, ninguém duvidava, como também ninguém duvidava que não ficariam juntos. Seja por conta das amigas dela, que arranjavam novos pretendentes, seja pelos amigos dele, que diziam que o negocio era festar e conhecer tantas outras gatinhas que haviam em seu percalço.
O tempo passou e as previsões estavam certas, pois junto com os anos, vieram também os espaços criados entre eles, claro que um ou o outro, de alguma forma sempre sabiam de uma noticia referente, se estava por ali ou do outro lado do oceano, se casara ou entrado em algum monastério e assim a vida de cada um dos dois foi seguindo, cada qual levado por suas escolhas ou empurrados pelo vento que soprava de seus próprios lados.
Agora já não eram tão jovens, não que estivessem velhos, longe disso, aliás se vangloriavam de estarem em ótima forma pra idade que tinham, mas os dias passaram tão rápido que muitos deles não continham sequer uma fagulha de pensamento entre eles, afinal, não eram mais tão jovens e os erros que se cometem, são menores em quantidade, talvez não em tamanho, afinal as responsabilidades também cresceram. Chegou um dia, daqueles que não se marca no calendário nem acendido a fagulha da lembrança, ele liga a TV enquanto come um pão com ovo e um copo de coca cola, seu lado saudável se restringia a praticar alguma atividade física, mas não pro que levava ao estomago, mas enfim estava ele lá, vendo TV e aquele rosto, tão conhecido e ao mesmo tempo perdido em alguma gaveta da cabeça, estava ali, sorrindo aquele sorriso, que tanto o fez sorrir também e falando a respeito de coisas que ele nem imagina e o mais intrigante era que ele não assistia aquele canal regularmente, só quando havia algum programa ligado a esportes e sim, lá estava ela.
Ele vagarosamente pousou o pão c/ ovo no prato, deu mais um gole no copo de coca cola, a imagem passou e enquanto tentava entender o que havia acontecido, lembrou que de alguma forma, sempre seria refém daquelas lembranças, não importando o que tudo tivesse passado e o que haveria de se passar, e ser refém dessas lembranças era saber que não se pode pagar o resgate, pois o preço seria muito, muito alto.