terça-feira, junho 18, 2024

HIPNOS

 

Morpheus - Jean-antoine Houdon 1828

Na mitologia grega, Hipnos vivia num palácio construído dentro de uma imensa caverna, onde o sol nunca alcançava, porque ninguém tinha um galo que acordasse o mundo, nem gansos ou cães, de modo que Hipnos viveu sempre em tranquilidade, paz e silêncio.

Curiosidade curiosa: daí a origem da palavra hipnose.

Do outro lado deste lugar peculiar passava Lete, o rio do esquecimento, e nas suas margens, cresciam plantas que junto ao murmúrio das águas límpidas do rio, ajudavam os homens a dormir.

No meio do palácio existia uma bela cama, cercada por cortinas pretas onde Hipnos descansava, sendo que Morfeu, seu filho, tomava o cuidado de que ninguém o acordasse. Hipnos tem nove irmãos, entre os quais o mais importante é seu gêmeo Tânato, (Θάνατος) a personificação da morte.

Ele e sua esposa tiveram os oneiros, seus filhos. Hipnos é aquele que leva a pessoa ao sono e lá encontra seus filhos, responsável por distribuir os sonhos: Morfeu, Ícelo, Fantaso e Fantasia.

• Morfeu – deus dos sonhos bons ou abstratos;
• Ícelo – deus dos pesadelos;
• Fântaso – criador dos objetos inanimados monstros, quimeras e devaneios que aparecem nos sonhos e ficam na memória;
• Fantasia – única filha e gêmea de Fântaso, deusa do delírio e da fantasia.

O mais conhecido é Morfeu (Μορφεύς). Deus do sonho, é um ser alado o que o permite vagar pelos lugares mais distantes. Quando alguém sonhava com a pessoa desejada, e tinha bons sonhos com ela, na verdade era Morfeu, que assumindo a sua forma, levava o sonhador para estes planos. Morfeu, seu danadinho...

Morfeu, deriva da palavra forma, pois como o próprio mito o descreve, ele tinha esse poder de se transformar. Para quem assistiu aos filmes da saga "Matrix", vai se lembrar do personagem que oferecia uma pílula azul e outra vermelha, dando ao individuo a escolha de "acordar" ou continuar "sonhando", vivendo na ilusão, pois este é também o seu poder. assim não foi por acaso a escolha do nome ao personagem.

Por causa desse mito que a expressão “caiu nos braços de Morfeu” é usada até os dias de hoje, dando a entender que a pessoa esta dormindo e pesadamente.

Curiosidade curiosa: a palavra "morfina", substancia esta analgésica, vem de Morfeu.

Os sonhos são peças chave nos estudos e no trabalho clínico de Jung. Em toda sua trajetória, ele analisou milhares de sonhos. Essas imagens que nos vem (pelo menos para aqueles que se lembram dos seus sonhos, que vivenciam estes sonhos de maneira mais forte), são carregadas de conteúdo arquetípico e muitas vezes, segundo estes estudos, descrevem, orientam e proporcionam significados, podendo ser potentes auxiliadores na elaboração da dinâmica existencial e pessoal de cada um.

Isto posto, esta noite eu tive um sonho peculiar: Eu estava sentado à beira de um rio, o dia estava claro e um sol agradável iluminava o ambiente. A minha volta havia uma grande floresta e sentada ao meu lado, estava uma índia já idosa.

Um pouco mais adiante, no mesmo lado do rio onde estávamos sentados, vinha o que parecia ser um cortejo fúnebre. Outros índios traziam um corpo enrolado no que parecia uma fina tapeçaria. Seguiam em silencio ate a beira deste rio, ate chegar em uma pequena canoa de juncos ancorada na beira, onde cuidadosamente depositaram este corpo. Um dos índios, ornamentado de penas e colares, cita algumas palavras, para mim, ininteligíveis mas certamente cheias de significado. Após um breve momento, simplesmente empurram a canoa onde estava o corpo para o meio do rio, onde ambos seguem o fluxo de sua correnteza se distanciando de todos.

De alguma forma, eu sabia que a pessoa envolta na tapeçaria e colocada nesta canoa, tinha uma ligação com a idosa índia. Então eu pergunto:

- A Senhora não quis se despedir?

Ela sorri e aponta para o mato e a terra que permeava a nossa volta, que apenas naquele momento notei que estava molhada e refletia a luz do sol e diz:

- o Grande Espirito já chorou por mim.

Neste momento ela olha para canoa que já seguia ao longe pelo rio e finaliza:

- ele também, não está mais ali...

Ela então se volta para mim, sorri, levanta-se e vai em direção da aldeia. Já eu, lembro de ficar olhando pra aquele bonito cenário à minha frente e instantes depois, acordo.

Fiquei pensativo, deitado na cama, olhando para o teto do quarto ainda escuro, pois era alta madrugada. Tento entender um possível motivo, significado, deste sonho aparentemente sem motivos para tê-lo, então lembrei: durante o dia, num almoço de família, fui bombardeado de lembranças. Minhas sobrinhas, hora brincando num banquinho de madeira, hora num carrinho de rolimã. Em cima da churrasqueira, um iluminador feito de casca de arvore. Em volta, pelos cantos do espaço onde nos encontrávamos, há um bule de barro, um coador de café feito de ferro. Todos estes itens, feitos pelo meu falecido pai.